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A capacidade de sprint é essencial na maioria dos desportos, como o râguebi, o futebol e o basquetebol. Mas essa capacidade não se desenvolve em condições estáveis e controladas: os jogadores são constantemente submetidos a exigências variáveis, seja ao receber, conduzir, passar, bater ou lançar a bola. Tradicionalmente, trabalhava-se este aspeto no ginásio, recorrendo a “pesos” em condições verticais, mas isso mudou, nos últimos anos. Agora, o trabalho de força implica mais desafios que contribuam para melhorar a adaptabilidade e, dessa forma, o rendimento. Não obstante, para estudar a variabilidade produzida, as medidas lineares convencionais  — como a aceleração — não parecem ser suficientes, pois a informação que proporcionam sobre as mudanças é muito limitada.

Nos últimos anos, o estudo do movimento tem apostado cada vez mais naquilo a que se chama análise da entropia — um tipo de medida não linear que atenta especificamente à variabilidade ou à “desordem” de uma série temporal. Paradoxalmente, nunca se tinha utilizado esta medida para estudar o treino de força nos desportos coletivos.

Uma equipa de investigadores, entre os quais se encontra Jairo Vázquez, preparador físico do F.C. Barcelona, desenvolveu um trabalho em que se demonstra, pela primeira vez, a capacidade das medidas de entropia de captar a variabilidade neste tipo de exercícios. Associado a uma tese de doutoramento realizada no INEFC de Barcelona, o estudo foi publicado na revista Journal of Science and Medicine in Sport em colaboração com pesquisadores da CIDESD da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal).

Um estudo pioneiro

“Torna-se cada vez mais evidente que o treino de força não deve consistir apenas de exercícios como agachamentos com uma barra e pesos”, defende Vázquez. “É preciso complementá-lo com desafios ou condicionantes que permitam uma adaptação à variabilidade, porque não se aprende nada a repetir continuamente a mesma solução para o mesmo problema de movimento; muito pelo contrário, só se aprende alguma coisa procurando constantemente soluções para novos problemas de movimento. E um desafio muito fácil de introduzir é o da bola de râguebi.”

No estudo, doze jogadores profissionais de râguebi realizaram um exercício de força utilizando uma máquina de inércia rotacional, que combina um trabalho concêntrico e excêntrico e que já deu provas do seu enorme valor. Durante uma semana, fizeram-se quatro sessões diferentes, em que o exercício consistia num deslocamento para a frente e para trás, no plano horizontal, mas, agora, com a presença de uma bola de râguebi. O jogador devia receber a bola passada por outro jogador à sua direita e lançá-la na direção de um recetor à sua esquerda. “Tanto no futebol como no râguebi, os movimentos são quase todos horizontais, ou seja, são movimentos diferentes dos que se produzem durante os típicos agachamentos. Com este exercício, combinámos vários pontos positivos: por um lado, um tipo de movimento mais habitual numa máquina de inércia rotacional com a qual já sabemos que vamos obter resultados positivos; e, por outro, a presença da bola introduz uma perturbação que estimula a adaptabilidade ao ambiente circundante.” Utilizando um acelerómetro, “queríamos perceber que género de influência essa perturbação exerce e que mudanças introduz”.

Assumiram-se três tipos de medidas. As mais tradicionais, como a aceleração média e a aceleração de pico (ou máxima), que privilegiam a quantidade, ou seja, como explica Vázquez, onde que “mais é melhor”. Comparando o tipo de exercício com a bola e sem a bola, não se identificaram diferenças na aceleração de pico, apenas na aceleração média e unicamente no movimento para a frente, que era superior, com a introdução da bola.

As outras medidas, mais inovadoras, consistiam na análise da entropia e mediam “a variabilidade do sinal”, comenta Vázquez, uma vez que “cada sinal tem uma estrutura, e a aceleração não tem necessariamente de ser regular”. Nesse caso, surgiam efetivamente diferenças — ou tendências claras para a diferença — entre o exercício com bola e o exercício sem bola, tanto no movimento para a frente como no movimento para trás e globalmente. Além disso, utilizando um tipo de análise que aborda as escalas temporais (multiscale), a variabilidade surgia nas janelas maiores, “as que podem estar ligadas ao movimento”, explica Vázquez.

Segundo a teoria da aprendizagem motora, tem de haver um determinado nível de variabilidade — nem muito alto nem muito baixo — para que o rendimento seja ótimo. “É certo que os resultados do estudo eram expectáveis”, assume o preparador, “mas nunca ninguém o tinha demonstrado.” Além disso, confirma-se que as medidas tradicionais são insuficientes para captar essa variável do treino.

 

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Uma vantagem e mais um passo

A adaptação à variabilidade traduz-se não só num aumento do rendimento, mas também numa redução do risco de lesão. “É semelhante ao processo de uma mão a bater numa mesa”, exemplifica Vázquez. “Se batermos repetidamente com a mão no mesmo ponto, provocaremos danos localizados e consideráveis. Mas basta uma ligeira variação na superfície de contato para repartirmos o impacto e reduzirmos o risco de ocorrência de danos.”

A adaptação pressupõe um nível superior de coordenação, mas isso fará com que a variabilidade se reduza com o tempo e que o treino deixe de ser tão eficaz. “Este trabalho é um grande primeiro passo para continuar a estudar esta linha e conhecer a sua aplicabilidade total no treino. Sabendo já que podemos medir a variabilidade, temos uma ferramenta para modificar e ajustar os exercícios, situando-os numa janela que nos permite treinar a adaptação”, assegura. “A diminuição da entropia seria o sinal moderno equivalente à necessidade de aumentar o peso na máquina.”

A diferença é que, neste caso, o peso equivale a desordem.

 

A equipa do Barça Innovation Hub

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