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March 26, 2019

Psicologia
Desportos Colectivos
Desportos Colectivos

COMO SE RELACIONAM OS VÁRIOS CONSTRANGIMENTOS QUE AFETAM O RENDIMENTO DESPORTIVO?

Sabemos que o rendimento desportivo é um fenómeno complexo e que depende de uma grande variedade de constrangimentos, mas sabemos de que forma estes se relacionam e interagem entre si? Sobre quais deles é mais eficaz iniciar uma intervenção? Podemos prevenir lesões, modificando os valores da equipa? Tal como sugere o artigo «On the relatedness and nestedness of constraints», publicado no mês de fevereiro na revista Sports Medicine por Balagué et al., a perspetiva dos sistemas dinâmicos complexos pode ajudar-nos a responder a estas e outras questões.

A partir da perspetiva dos sistemas dinâmicos complexos, as ações desportivas entendem-se como sendo o resultado da interação entre o desportista e o seu ambiente. Se os constrangimentos pessoais (por exemplo, a motivação, fadiga, capacidade, etc.) e/ou do ambiente (por exemplo, oponentes, comportamento do público, estado do terreno de jogo, instruções do treinador, etc.) alteram, as possibilidades de ação também alteram. Durante a competição, tais possibilidades de ação surgem e dissipam-se muito rapidamente. Alguns futebolistas extremamente rápidos, hábeis e motivados, como Leo Messi, são capazes de perceber possibilidades de ação em ambientes que mudam rapidamente, possibilidades essas que podem passar despercebidas a outros jogadores. De fato, a mesma informação objetiva sobre o ambiente possui um significado diferente para cada jogador.

A maioria das ações altamente imprevisíveis como, por exemplo, fazer um túnel, passando a bola por entre as pernas de um defesa, acontece de forma espontânea, ou seja, não programada. Como salienta Balagué, «o objetivo de Messi não é fazer um túnel, mas sim superar o defesa para se aproximar da baliza contrária». O caráter emergente deste tipo de ações faz com que seja impossível programá-las antecipadamente, o que possui especial interesse para a forma de conceber o treino e para o tipo de instruções que o treinador dá aos seus jogadores.

Qual é o papel das instruções no rendimento dos jogadores e jogadoras?

As instruções dos treinadores durante uma partida ou um treino são, também, informações sobre o ambiente e, como tal, não originam os mesmos efeitos em todos os desportistas. Adicionalmente, o texto adverte que, em algumas ocasiões, podem mesmo chegar a ser contraproducentes. Por exemplo, o que acontece quando tais instruções competem com as possibilidades de ação imediatas que ocorrem durante o jogo, através da interação com os oponentes? Não iremos realizar um passe longo a um jogador desmarcado porque o treinador indica que devemos fazer passes curtos? A dúvida pode atrasar a reação de passe, permitindo que este possa ser intercetado.

As instruções deveriam adequar-se às características e necessidades do(s) recetor(es). Adicionalmente, deveriam também considerar a escala temporal da ação que se pretende manipular com a instrução. Nos processos intencionais, isto é, nos processos que se produzem em escalas temporais suficientemente grandes e que, por isso, podem ser controlados voluntariamente (como o modo de marcar um penalti), a instrução pode ter sentido (se se conseguir alterar a intenção). No entanto, tal não acontece nos processos em que a pressão temporal não permite esse controlo voluntário (como o exemplo do drible do Leo Messi, detalhado anteriormente).

A importância da vinculação do jogador à tarefa

O artigo propõe uma compreensão diferente dos constrangimentos que afetam a tarefa e da mesma noção de tarefa, com repercussões tanto teóricas como práticas. Como dizem os autores, «a tarefa é uma propriedade sistémica que não pode ser atribuída sem um objetivo, ou seja, a regra deve ser voluntariamente respeitada e as ações do oponente devem ser percebidas pelo desportista de modo a funcionarem como constrangimentos informativos». Sem esta implicação ativa do desportista, não existe tarefa, não existe constrangimento e também não se podem obter os resultados esperados. Isto é do conhecimento dos profissionais que, em treino ou em competição, ofereceram propostas aos seus desportistas, os quais não as acataram ou priorizaram, obtendo um resultado inferior ao espectável. Na prática, esta nova compreensão do conceito de tarefa reforça o papel do desportista nos processos de treino e de competição, ao mesmo tempo que propõe um papel menos prescritivo e mais coadaptativo do treinador.

Que constrangimentos são mais relevantes para o rendimento?

Como sugerido por Balagué e pelos seus colaboradores, os constrangimentos pessoais e ambientais que condicionam o rendimento evoluem em diferentes escalas temporais. Isto significa que alguns se alteram de forma mais lenta (por exemplo, os valores pessoais, o somatótipo ou o cronótipo) do que outros, que se alteram de forma mais rápida (por exemplo, o estado de espírito, a carga interna, a força muscular). Estes constrangimentos, independentemente da sua origem (fisiológico, psicológico, biomecânico, etc.), estão relacionados entre si através dessas escalas temporais. Os que evoluem mais lentamente influenciam de forma mais «constante» os que evoluem mais rapidamente e, a partir deste ponto de vista, são mais relevantes para o rendimento. Por exemplo, ao incidirmos sobre um valor do desportista, ou seja, sobre aquilo a que ele atribui valor (por exemplo, o sucesso desportivo), que se pode manter durante décadas, fazemo-lo de forma correlacionada com outros constrangimentos como a motivação, objetivos, estratégias, atenção e perceção de possibilidades de ação. Por sua vez, estes constrangimentos que evoluem mais rapidamente do que os valores, influenciando o rendimento, apoiam os que evoluem mais lentamente, interagindo com eles através de uma causalidade circular. Ou seja, ao intervir na perceção das possibilidades de ação, intervimos também nos objetivos, motivação e valores.

Para compreender melhor este conceito, Rafel Pol oferece o seguinte exemplo: «Se um jogador dá mais valor ao sucesso pessoal do que ao da sua equipa, isto terá influência nas suas decisões em campo e nas ações técnicas que desenvolve, o que comportará consequências fisiológicas. Se dá mais valor ao sucesso coletivo do que ao pessoal, irá priorizar a sua intervenção em ações que talvez não representem um benefício direto para si. Ao invés disso, se dá prioridade ao sucesso pessoal imediato, recusará intervir em tais ações “altruístas”, favorecendo a sua intervenção em ações que potenciem a sua individualidade». Por mais instruções que um jogador receba em relação à necessidade de ajudar os seus companheiros na defesa ou por mais exercícios técnicos que realize para praticar as ajudas, se os seus valores não mudam, será muito difícil conseguir alcançar o comportamento desejado.

Adicionalmente, é necessário ter em conta que, ao intervir a nível coletivo (incitando a pressão no campo adversário, modificando o número de jogadores, as dimensões do terreno, etc.), as ações individuais e as suas consequências fisiológicas são também constrangidas de forma correlacionada, fazendo com que não seja necessário desenvolvê-las de forma descontextualizada. Assim, é essencial que o treinador compreenda as interações entre os constrangimentos pessoais e o ambiente que afetam o rendimento e que reconheça a sua organização hierárquica, tendo por base escalas temporais de ação, o que lhe permitirá intervir com maior critério e eficácia.

 

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Adriana Roca Ferrandiz

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