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September 7, 2020

Impacto social

Filosofia, uma ciência nascida no mundo do esporte

Temos de uma ideia muito distorcida sobre o surgimento da filosofia. Aquela imagem de homens sábios que nunca se levantam de suas cadeiras, totalmente submersos em suas academias e universidades, não diz respeito a filósofos como Sócrates, por exemplo, um dos pais da filosofia. Ele foi um dos pensadores da antiguidade com o melhor condicionamento físico, elogiado pelos seus generais nas três batalhas em que participou, sendo que na última já havia passado dos cinquenta anos de idade. Assim como seus compatriotas gregos, dedicou atenção especial aos cuidados com o corpo, seu condicionamento físico e seu desempenho na corrida. Os treinamentos cardiorrespiratório e de força foram fundamentais para aquelas guerras do tipo corpo a corpo e de igual forma para os jogos que eram realizadas em honra aos seus deuses.

A importância do cuidado com o corpo mediante a prática de esportes foi ao longo do tempo transmitida por Sócrates ao seu discípulo Platão e este, por sua vez, ao seu discípulo Aristóteles. Assim, os três grandes nomes da filosofia antiga, influenciados pela ideia de que o esporte era fundamental no caminho da busca pela sabedoria, introduziram a atividade física em todos os seus tratados filosóficos. Partindo desta perspectiva, faz todo o sentido se pensarmos que a filosofia grega nasceu do interesse nos cuidados com o corpo. Os médicos da antiguidade não só consultavam os atletas sobre as suas decisões como também consideravam a atividade física como um medicamento para restabelecer a saúde, trabalhando a parte física diariamente com os jovens. Diocles de Caristos, médico que viveu no século IV a.C., deixou um bom testemunho desta prática em duas de suas obras: “Sobre um regime de vida saudável” e “Sobre dieta”, que podem ser consideradas os dois primeiros tratados sobre treinamentos e nutrição esportiva. Quando aqueles jovens atletas se tornaram filósofos, eles ainda consideravam que o esporte era a base que lhes permitia entender o que era o ser humano e, assim, atingir a sabedoria.

Platão adverte em suas obras que a educação física deve ser parte do programa educacional dos jovens. E Aristóteles, por sua vez, professor de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, garante que a atividade física preserva a saúde assim como engrandece o indivíduo, além de aumentar sua força física.

A influência intelectual destes filósofos foi fundamental nas escolas monásticas da Idade Média, apesar do esporte ter perdido sua importância a partir desta época. Porém, suas ideias chegaram até nós juntamente com o legado de suas obras, e, em 1970, quando o tema sobre ética e filosofia do esporte ressurgiu, ocuparam novamente seu papel de liderança. No final do século 20, os filósofos modernos passaram a refletir sobre o real significado do esporte, separando o de um simples jogo. Eles definiram como um jogo de habilidade física, executado amplamente tanto por praticantes quanto por torcedores e que perdura no tempo dentro da sociedade, como uma das maiores manifestações. Embora sua reflexão mais interessante tenha sido sobre as regras ou regulamentos de cada modalidade de esporte assim como sua relação com a ética. Ao longo deste caminho, até hoje, foi construída a ideia de que qualquer esporte, seja ele praticado profissionalmente ou por amadores, pode refletir os valores de uma sociedade e ainda gerar comportamentos positivos que o aprimorem. Hoje, a igualdade entre homens e mulheres ou a não discriminação por raça ou origem, são parte integrantes de todos os campeonatos em equipe assim como das provas onde o atleta individual se destaca, como os Jogos Olímpicos, por exemplo.

Na verdade, a ideia dos filósofos gregos, de que o esporte é um sinônimo do alcance da sabedoria e transformação através da educação, nos conduz a exemplos poderosos atualmente. Entre os exemplos mais significativos, podemos destacar as ONG que utilizam o futebol para promover mudanças sociais. É o que faz a fundação The Third Half, dedicada a apoiar as Metas de Desenvolvimento da ONU, facilitando viagens entre países para a realização de partidas, conhecendo e apoiando culturas assim como o desenvolvimento local de meninos e meninas que crescem em bairros mais humildes. Há grupos que trabalham a nível local, que são associados à Fundação Internacional, realizando projetos muito interessantes como, por exemplo, a Rumah Cemara, que organiza partidas de futebol nas ruas da Indonésia visando a reintegração à sociedade, de jovens que abandonaram o vício pelas drogas. Já o projeto nomeado Dream a dream trabalha com os bairros mais vulneráveis da Índia e o Dragones de Lavapiés que integra estudantes de diferentes culturas migrantes, como latino-americanos, muçulmanos e asiáticos, através de campeonatos, com o objetivo de estabelecer a união entre essas comunidades aproximando suas culturas tão diferentes entre si. A ONG Love Futebol fornece campos para os bairros onde as crianças precisam de um espaço para brincar.

E, finalmente, a Fundação Barça, que conta um grandioso projeto de combate ao bullying, intermediando programações de jogos e treinamentos para professores de educação física.

Mas nem é preciso se limitar à grandes organizações ou ao esporte profissional. Uma atividade cada vez mais difundida é o plogging, que consiste em coletar de pequenos resíduos encontrados nos locais onde se praticam esportes. Esta prática foi idealizada pelo sueco Erik Ahlström no ano de 2016, em Estocolmo, um entusiasta em corrida. Sua rotina de coleta de garrafas de papel ou plástico logo se espalhou pela Suécia e, hoje em dia, é um fenômeno global que envolve mais de 20.000 pessoas em centenas de países.

Assim, hoje, não só sabemos que a filosofia nasceu do esporte, mas também de que o esporte a ela se reporta, como liderança, ética e responsabilidade social são campos de atuação e conhecimento imprescindíveis para quaisquer de seus profissionais e amadores.

 

 

Martín Sacristán

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