April 9, 2020
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OS DESAFIOS DO ESPORTE COM A COVID-19: TREINAMENTOS, ESTÁDIOS E PERDAS
Em todos os setores econômicos, demorou-se a aceitar o grande impacto causado pelas quarentenas. O esporte não ficou distante disso, e até a segunda semana de março, não foram suspensos os jogos das ligas Serie A, LaLiga, La Champion, Premier Leagle e finalmente a NBA, este último porque dois de seus atletas testaram positivo para a COVID-19. Logo seguiram os exemplos dos campeonatos de todas as disciplinas e uma semana depois passaram de temporários para indefinidos. Ainda restavam os Jogos Olímpicos, porém, ao serem adiados para 2021, recebemos uma mensagem significativa: o lapso nas competições será muito longo e a data de reabertura ainda é incerta.
É uma pausa que nos obriga a debater sobre as repercussões da COVID-19 e as estratégias que nos permitam superá-las. Estamos nos preparando para retomar o papel central que o esporte ocupa na vida das pessoas tão logo a pandemia passe. Muitas pessoas ficaram privadas dessa injeção de felicidade proporcionada por nossos encontros e clamam para que esse vazio seja preenchido totalmente quando a quarentena acabar. Será que estaremos preparados? Sendo a resposta um categórico sim ou um talvez, tudo dependerá de como enfrentaremos quatro aspectos fundamentais deste impasse, conforme apresentados a seguir:
1. O treinamento e o condicionamento físico dos atletas
Conforme já apresentado, em nosso caso, no FC Barcelona, os preparadores físicos estão improvisando novas estratégias diante desta situação atípica. A diminuição do VO2 Max e da pressão sanguínea que levam a um menor consumo de oxigênio bem como a perda de massa muscular durante o confinamento, está sendo suavizada para todas as equipes e atletas, através de um acompanhamento diário e de rotinas em domicílio. Além disso, os astronautas da NASA e a Agência espacial europeia advertiram que um dos aspectos mais relevantes do confinamento é o psicológico. Os atletas terão estresse provocado pelo medo da perda de condicionamento físico e realizarão, se não forem um tanto imaginativos, treinamentos repetitivos. Uma gestão adequada desses receios e uma intervenção rápida podem fortalecer a resiliência, transformando a quarentena em um treinamento mental a mais, no intuito de se adaptarem a situações extremas. Também será imprescindível ser realista, admitindo que, parte da coordenação da equipe se perderá por não poder treinar em grupo. As necessidades para o retorno aos jogos podem não ser diferentes daquelas que ocorrem após as férias de verão.
2. A gestão dos estádios fechados
Equipes de todo o mundo perderam as receitas com seus tours para visitantes, lojas e museus entre outros serviços que complementam a venda de ingressos. Como exemplo, somente em 2019, o Allianz Arena arrecadou quase 7 milhões de euros com a venda de cervejas, cachorro quente e refrigerantes durante os jogos e € 10 milhões em visitas ao museu FC Bayern. Esses números nos mostram claramente o prejuízo que representa a disputa de jogos com portas fechadas, como aconteceu no princípio da pandemia. Não é somente a questão econômica, mas também o lado psicológico: os atletas nos lembram frequentemente sobre a dificuldade de se concentrarem sem as reações dos torcedores e o vazio que sentem depois que realizam uma grande jogada. Nas arquibancadas, a emoção é visível e audível durante uma partida e, sem isso, até as emissoras de TV perdem o interesse pela sua retransmissão. Com isso as receitas dos clubes diminuem significativamente. A questão é, uma vez terminada a quarentena, os eventos com grande quantidade de público serão autorizados ou não.
A Itália, considerada a primeira grande contaminação no Ocidente, enviou um importante aviso às autoridades. O San Siro, em Milão, onde aconteceu o jogo entre Valencia e FC-Atalanta, pode ter sido a bomba biológica que ajudou a expandir a pandemia. Não somente pelos que foram ao estádio: 35% dos atletas do Valencia testaram positivo para a COVID-19, e, logo em seguida, surgiram casos no Atalanta e também entre os jornalistas que estiveram em Milão. Contudo e, além disso, os torcedores que se reuniram em bares, ruas e em suas próprias casas fomentaram o contato social e o contágio, que nos dias e semanas seguintes, cresceria exponencial essa pandemia.
Acreditamos que governantes de todo o mundo levarão em consideração o caso do San Siro, limitando durante meses, os encontros massivos e mais diretamente os jogos com grande quantidade de público. Isso condenaria o restante da La Liga a jogar com portas fechadas, ainda mais no verão, como pretende fazer a Premier League que retomará as atividades em junho. Mesmo sendo dessa forma, os cientistas alertam que poderá existir um retorno dessa pandemia durante o outono, como acontece com a gripe comum. Poderia acontecer, então, que as ligas novamente fossem interrompidas e que os intervalos momentâneos deixassem de ser situações excepcionais para se tornarem recorrentes.
E quando tudo voltar à normalidade. No momento que existir uma vacina, o ideal é que ela seja administrada de forma massiva em toda a população, sendo que, para os melhores prognósticos, isso pode acontecer em um ano.
3. As perdas econômicas
Este é, sem dúvida, o ponto mais complexo, especialmente em virtude das incertezas que acabamos de abordar. No pior dos cenários e já considerando o ano de 2020 como perdido, impõe-se a redução nas remunerações das equipes. A NBA tem uma cláusula em seus contratos que permite essa redução e que aproveitará subtraindo 1% do montante do contrato de cada atleta por jogo não disputado. Se isso não for suficiente, as equipes terão que negociar com seus atletas e técnicos, como de fato os grandes clubes de futebol já estão fazendo. O que nos leva a considerar que todos teremos que dividir essa carga econômica.
Além dos atletas de elite, no ponto mais elevado das receitas está a equipe técnica, cujo papel é fundamental no trabalho com eles e cuja sobrevivência econômica pode ser mais complicada. É neste momento que surgem as oportunidades para os clubes maiores aproveitarem sua força financeira, atraindo o talento técnico de profissionais que fiquem sem trabalho. Mas, por trás disso, ainda existe um perigo, isto porque se os clubes de pequeno e médio porte desaparecem dos campeonatos, também se desvanece a essência das próprias ligas. Regulamentação de emprego, busca por auxílios governamentais e linhas de crédito bancário terão que ser complementares, com o envolvimento de todas as equipes e o compartilhamento de soluções. Mais que se salve quem puder, se queremos conservar os campeonatos teremos que nos salvar a todos.
Na seguinte entrega, meios de comunicação e combate: as duas caras deste impacto.
Martín Sacristán
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