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April 28, 2020

Psicologia
Saúde e Bem-Estar
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ANDREAS IVARSSON: “INCLUIR TÉCNICAS DE PSICOLOGIA NOS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO PODERIA REDUZIR OS RISCOS COM LESÕES”

Um dos grandes inimigos dos atletas, se não for o maior, é o risco de lesões. É por isso que a prevenção e o tratamento constituem uma parte essencial do departamento médico e do desempenho dos clubes. Entretanto, uma parte ainda não explorada totalmente sobre este risco refere-se a fatores psicológicos e sociais dos atletas.

Andreas Ivarsson, doutor em psicologia pela Universidade de Halmstad, na Suécia, responsável pelos serviços de desempenho, pesquisa e psicologia do Arsenal F.C., ministrou uma palestra sobre os últimos avanços nesta área e sua importância, durante a mais recente ´Barça Sports Medicine Conference´ organizada pelo Barça Innovation Hub. Tivemos a oportunidade de conversar com ele sobre este assunto.

 

A influência dos fatores psicológicos e sociais sobre o risco de lesões parece ser cada vez mais evidente, mas até que ponto sua influência é importante? Existe alguma evidência quantitativa? Existe algum tipo de lesão que seja mais suscetível a estes tipos de fatores?

Resposta: como o senhor comentou, o interesse pelos fatores psicossociais relacionados ao risco de lesões aumentou durante os últimos anos, mas é difícil ponderar a importância de um só fator de risco. Em uma metanálise publicada recentemente, cerca de 7% da variação no aparecimento de lesões poderia ser explicada, mediante fatores psicossociais (Ivarsson et al., 2017). Entretanto, isso não significa afirmar que 7% das lesões poderiam ser explicadas mediante fatores psicossociais. O que mostra que podem ser um dos muitos fatores que influenciam no risco de uma lesão.

Em relação aos diferentes tipos de lesões, grande parte da pesquisa publicada concentrou-se nas lesões agudas/traumáticas. Além disso, alguns estudos focaram-se nos fatores de risco psicossocial sobre as lesões de sobrecarga. Os resultados demonstraram que existem semelhanças e diferenças nos fatores que podem influenciar no risco destes tipos de lesões.

 

Quais são os principais mecanismos pelos quais o estresse aumenta o risco de lesões? Durante a palestra foi comentado sobre a importância que existe na tomada de decisões mais modestas. Este é o fator principal?

Existem alguns mecanismos principais que explicam a relação entre o estresse e o risco de lesões. Um deles é que o estresse influi negativamente na capacidade que o atleta tem para tomar decisões de alta qualidade, em função de uma visão periférica reduzida nestes momentos. Outro mecanismo proposto é que provavelmente este estresse cause maiores níveis de fadiga psicofisiológica. Um aumento da fadiga poderia, por sua vez, aumentar o risco de lesões.

 

Foram mencionados três fatores que afetam o risco de lesões: os relacionados à personalidade, os interpessoais e os aspectos culturais. Poderia nos explicar melhor no que consistem estes fatores e como afetam o risco?

Em estudos anteriores, os traços de personalidade constituem uma das principais categorias de fatores psicossociais que podem influenciar no risco de lesões. Alguns exemplos de traços que foram encontrados aumentando a probabilidade de se lesionar são específicos de cada esporte, mas há também a tendência para a ansiedade em geral, a preocupação e a suscetibilidade ao estresse. Foi sugerido que, essas características de personalidade, aumentam a probabilidade de o atleta interpretar as situações como estressantes bem como a magnitude de suas respostas ao estresse.

 

Na metanálise de que falamos recentemente, foi observado que as respostas ao estresse e o histórico pessoal de fatores estressantes estavam diretamente associados ao risco de lesões, mas o tipo de personalidade não era significativo. Isso está correto?

Sim. Está correto. Uma possível explicação deste resultado é que a personalidade (por exemplo, a tendência para a ansiedade) pode não ter uma influência direta sobre a lesão, mas, ao invés disso, poderá influenciar na probabilidade de que um atleta interprete mais situações como estressantes.

 

Sobre o histórico de fatores estressantes: quais são os fatores mais significativos em um risco? E como se poderá estudá-los ou agrupá-los, levando em consideração que, conforme sua afirmação, existem cerca de 640 fatores estressantes diferentes já descritos?

É difícil afirmar quais são os fatores estressantes mais relevantes, mas uma categoria de fatores estressantes que investigamos com frequência são os relacionamentos interpessoais como, por exemplo, com o técnico, com os colegas de equipe, com a família, com os amigos entre outros relacionamentos. Esta categoria de fatores estressantes parece apresentar uma relação, trazendo um maior risco de lesões. Na maioria dos estudos que pesquisam os antecedentes de fatores estressantes, foi solicitado ao atleta que, de uma lista de fatores estressantes potenciais, indique qual o nível de importância de um fator estressante durante a última semana/mês/ano. Frequentemente há também perguntas abertas no questionário para que o atleta possa completar os fatores estressantes adicionais que não estão na lista.

 

Há dois aspectos que foram abordados de uma forma um tanto especial: o relacionamento com o técnico e os aspectos socioculturais. Poderia nos explicar essas peculiaridades e sua importância?

Foi sugerido que ambas as categorias de fatores influenciam no risco de lesões entre os atletas. Uma explicação potencial é que estas variáveis poderiam aumentar a probabilidade de desenvolverem condutas inadequadas como, por exemplo, jogarem com uma lesão ou sentindo dores. Outra explicação potencial é que o atleta irá concentrar-se nos processos internos no lugar de estímulos importantes durante uma partida, por exemplo. Isso diminuirá a probabilidade de tomarem decisões precisas e de alta qualidade.

 

Na mesma metanálise de que falamos, também foi descoberto que, embora haja poucos estudos sobre intervenções psicológicas e risco de lesões, todos foram positivos. Por que ainda existem poucos estudos deste tipo?

Acredito que podem ser muitas as razões que explicam a ausência destes estudos. Uma barreira geral para a implantação de uma iniciativa deste tipo de prevenção de lesões baseada em evidências, citada pelos técnicos é a falta de tempo. Outra barreira potencial poderia estar relacionada com o fator psicológico. A pesquisa demonstrou, por exemplo, que técnicos e dirigentes de clubes de futebol, expressaram seis barreiras relacionadas com a implantação da psicologia aplicada ao esporte.

 

Algum tipo de terapia era superior a outra? Na conferência foi mencionado que, além da terapia em si, o segredo está na comunicação. Como deveria ser essa comunicação para que seja efetiva?

Todos os diferentes programas de intervenção parecem surtir efeitos semelhantes sobre a redução do risco de lesões. As pesquisas demonstraram que, uma proporção do efeito no estudo da intervenção psicológica, pode ser explicada por fatores comuns, ou seja, fatores que são semelhantes para diferentes perspectivas psicológicas. Os fatores comuns mais relevantes são: o consenso de objetivos, a empatia e a parceria. Para facilitar esses fatores é importante estabelecer um ambiente aberto onde o atleta possa expressar-se totalmente e onde você, como psicólogo, possa escutar as histórias pessoais dele.

 

Em sua mensagem final destacou a importância de monitorar o nível de estresse e as respostas fornecidas pelos atletas, assim como exercícios de autorreflexão deveriam ser integrados no trabalho de prevenção das lesões em uma equipe ou em um clube. Como deveria ser este seguimento e que tipo de exercícios são recomendados?

Acredito que uma das maneiras de monitorar os níveis de estresse é combinar o uso de biorretroalimentação como, por exemplo, a VFC (variabilidade da frequência cardíaca) com diferentes perguntas de auto informação (distribuídas através de aplicações). É importante não incluir muitas perguntas, mas sim monitorar com frequência. Isso é importante porque a parte mais interessante com relação ao risco de lesões é a alteração destas variáveis em uma mesma pessoa. Os resultados destas duas medidas podem ser usados como base para os exercícios de autorreflexão.

 

E, finalmente, como visualizar o futuro neste aspecto? Qual será a importância e quais novidades espera que sejam introduzidas?

Resposta: acredito (e espero) que sejam incluídas técnicas psicológicas nos programas de prevenção a lesões. Incluir esta perspectiva, acreditamos, reduzirá expressivamente os índices de lesões. Além disso, uma perspectiva psicológica também pode ser muito valiosa quando se trata de implementar outros tipos de exercícios de prevenção.

 

 

A equipe Barça Innovation Hub

 

Bibliografia complementar:

 

Gledhill, A., & Forsdyke, D. (2018). An ounce of prevention is better than a pound of cure: shouldn’t we be doing EVERYTHING to reduce sports injury incidence and burden? British Journal of Sports Medicine, 52, 1292-1293.

Gledhill, A., Forsdyke, D., & Murray, E. (2018). Psychological interventions used to reduce sports injuries: a systematic review of real-world effectiveness. British Journal of Sports Medicine, 52, 967-971.

Ivarsson, A., Johnson, U., Andersen, M. B., Tranaeus, U., Stenling, A., & Lindwall, M. (2017). Psychosocial factors and sports injuries: Meta-analyses for prediction and prevention. Sports Medicine, 47, 353–365.

Ivarsson, A., Johnson, U., Karlsson, J., Börjesson, M., Hägglund, M., Andersen, M. B., …Waldén, M. (2018). Elite female footballers’ stories of sociocultural factors, emotions, and behaviors prior to anterior cruciate ligament injury. International Journal of Sport and Exercise Psychology. Advance online publication.

 

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