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August 31, 2020

Medicina
Saúde e Bem-Estar

A síndrome do impacto no ombro (SIO) não altera a ordem de ativação muscular durante os movimentos fisiológicos

Os problemas do ombro são frequentes, sendo que 30% das pessoas apresentam dores na região anatômica em algum momento de suas vidas. Além de sua alta predominância, a disfunção do ombro costuma ser persistente e recorrente, com 54% dos pacientes que manifestam algum sintoma 3 anos após a primeira incidência de dores no ombro (1).

A síndrome do impacto no ombro (SIO) ou síndrome de colisão do ombro já não é definida apenas como uma patologia relacionada à diminuição do espaço subacromial, mas como algo mais complexo. É a causa mais comum de dores no ombro e sua origem é multifatorial, o que leva a diferentes patologias e disfunções subjacentes. Um diagnóstico preciso de SIO requerem avaliações sistemáticas que consistem em anamnese completa do paciente e realização de diferentes manobras de estímulos. O impacto do ombro é identificado principalmente pela incidência de dores, redução da força muscular e amplitude de movimentos e juntamente essa perda da função causará impactos negativos na qualidade de vida do paciente. Acredita-se que esses sinais e sintomas ocorrem em consequência da diminuição do controle motor da musculatura, debilidade muscular periescapular, axio-escapulares e do manguito rotador. Além de uma possível tendinopatia do manguito rotador ou do tendão da cabeça longa do bíceps braquial, discinesia escapular ou desequilíbrios musculares, instabilidade ou lesão de labrum que podem significar tanto causa como consequência do SIO.

A capacidade da escápula e da articulação glenoumeral para manter a funcionalidade depende de um correto controle motor, determinado pela ordem e quantidade de ativação muscular. A maioria das pesquisas sobre a ativação muscular estão centralizadas na quantidade de ativação e não no tempo de ativação, tendo similares importâncias. As evidências a respeito da ordem de ativação da musculatura do ombro são incompletas. Neste sentido, as pessoas que estão sujeitas à SIO manifestam ordem de ativação muscular alterada. Existem estudos que manifestam ativações musculares iniciadas por trapézio superior e atrasos na ativação do serrátil anterior e do trapézio inferior durante os movimentos de abdução, embora sua interação com os demais músculos do ombro seja desconhecida. De acordo com estes resultados, podemos suspeitar que as pessoas que tenham esta patologia parecem apresentar uma tendência de atraso no tempo de ativação de alguns músculos periescapulares (2), podendo desencadear em discinesia escapular. Ao invés disso, em pessoas saudáveis, pesquisas parecem descrevem uma sequência de ativação precoce do músculo deltoide anterior, trapézio superior e supra espinhoso, seguida por uma interação não determinada do serrátil anterior e do trapézio inferior, bem como do restante do manguito rotador durante os movimentos do ombro (3, 4, 5).

Igualmente ao diagnóstico da SIO, os mecanismos subjacentes que resultam em padrões de ativação alterados ainda não são claros, existindo uma oposição sobre se a alteração destes padrões seria uma consequência ou causa das mudanças fisiopatológicas associadas à SIO. Neste sentido, as diferenças clínicas entre assintomáticos e pessoas sujeitas à SIO seguem não sendo claras. Por isso, uma pesquisa recentemente publicada pela equipe do departamento de fisioterapia do FC Barcelona (6) tentou identificar os padrões de ativação muscular nos músculos do ombro (musculatura periescapular, axio-escapular e manguito rotador) durante os movimentos fisiológicos utilizados nas avaliações de ombro, além da combinação de diferentes velocidades e cargas. Para isso, foram feitos registros eletromiográficos em 68 pessoas, durante flexões, caídas e abduções realizadas com velocidades (rápida, média e lenta), tanto com carga (3 kg) no braço como sem carga. Para identificar e descrever a ordem de ativação alterada e sua importância clínica, primeiro é necessário conhecer a ordem de ativação em pessoas saudáveis, sendo que 34 pessoas saudáveis foram comparadas com 34 diagnosticadas com SIO.

O principal resultado foi a não existência de diferenças na ordem de ativação dos músculos periescapulares, axio-escapulares e do manguito rotador entre as pessoas saudáveis e as diagnosticadas com SIO, sendo que todos os músculos se ativaram antes do início do movimento em todas as condições estudadas. Os primeiros músculos a serem ativados foram os seguintes: deltoide anterior, trapézio superior e deltoide médio na maioria das condições avaliadas. Os demais músculos estudados (serratil anterior, trapézio inferior, deltoide posterior, peitoral maior e, especialmente, supraespinhoso, infraespinhal e subescapular) não apresentaram uma ordem de ativação determinada. Estes resultados questionam a função estabilizadora do manguito rotador, já que sua ativação foi posterior aos demais músculos. Assim, conforme a explicação da Dra. Silvia Ortega Cebrián, membro do departamento do FC Barcelona e primeira autora da pesquisa: “Aprendemos que o manguito rotador tem função estabilizadora e se centraliza no aprimoramento dos movimentos da articulação, mas segundo nossos resultados e outros anteriores tanto em pessoas saudáveis como em pessoas com patologia, o manguito é ativado após os músculos com função mais dinâmica. Assim, é por isso que precisamos continuar a estudar o papel do manguito rotador, já que existe a possibilidade de não haver uma função tão importante mecânica ou inicial como pensamos”.

Além disso, os resultados também questionam as tendências de uma reeducação dos padrões de ativação que alguns programas de reabilitação utilizam, já que atualmente não foram identificadas diferenças nos tempos de ativação entre as pessoas saudáveis e as diagnosticadas com SIO. Também observamos que nos resultados relacionados à velocidade e à carga, apresentava mudanças nos tempos de ativação, sendo que os movimentos que se ativaram antes foram os com velocidade média e os movimentos com carga.

Em síntese, a semelhança nos padrões musculares de ativação tanto em pessoas diagnosticadas com SIO como em pessoas saudáveis obriga os profissionais a considerar a necessidade de avaliar outros movimentos funcionais, bem como considerar a avaliação individualizada de padrões motores em vez de padrões generalizados. Para encerrar, a Dra. Ortega Cebrián nos deixa a seguinte reflexão: “estes resultados me fazem pensar sobre alguns métodos de reeducação neuromuscular ou de resolver uma discinesia escapular. Talvez tenha deixado de me preocupar tanto com os tempos de ativação e com esta ideia de sincronização muscular, concentrando-me mais na quantidade de ativação”.

 

 

BIHUB team

 

Referências:

  1. Lewis JS. Rotator cuff tendinopathy/subacromial impingement syndrome: is it time for a new method of assessment? Br J Sports Med. 2009;43(4):259-64.
  2. Cools AM, Witvrouw EE, De Clercq GA, Danneels LA, Willems TM, Cambier DC, Voight ML. Scapular muscle recruitment pattern: electromyographic response of the trapezius muscle to sudden shoulder movement before and after a fatiguing exercise. J Orthop Sports Phys Ther. Maio de 2002;32(5):221-9.
  3. Wattanaprakornkul D, Halaki M, Boettcher C, Cathers I, Ginn KA. A comprehensive analysis of muscle recruitment patterns during shoulder flexion: an electromyographic study. Clin Anat. 2011;24(5):619-26.
  4. Phadke V, Ludewig PM. Study of the scapular muscle latency and deactivation time in people with and without shoulder impingement. J Electromyogr Kinesiol. 2013;23(2):469-75.
  5. Reed D, Cathers I, Halaki M, Ginn KA. Does load influence shoulder muscle recruitment patterns during scapular plane abduction? J Sci Med Sport 2016, 19(9): 775-60.
  6. Ortega-Cebrián S, Bagur-Calafat C, Whiteley R, Navarro R, Monné-Guasch L, Girabent-Farrés M. Subacromial Impingement Syndrome does not alter muscle onset activation patterns during shoulder cardinal movement at different speed and load. Musculoskelet Sci Pract. 2020;48:102161

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