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August 7, 2020

Rendimento
Saúde e Bem-Estar

ACLIMATAÇÃO AO CALOR E DESEMPENHO

Problemas causados pelo calor

Muitas vezes, os atletas enfrentam condições meteorológicas inadequadas nos campeonatos. O calor é um dos que mais gera preocupações aos técnicos e atletas, isto devido ao seu impacto sobre as respostas de aclimatação tanto a nível central quanto periférico, por exemplo, o aumento da sudorese, a consequente desidratação assim como o aumento da percepção de esforço, lembrando que, ao praticar atividades físicas em ambientes com temperaturas altas, a redução do desempenho é significativa. De fato, este tem sido o limiar de numerosos debates sobre a conveniência de se realizar algumas provas dos Jogos Olímpicos de Pequim durante o dia e recentemente nos de Tóquio 2020, como os 50 km de marcha atlética ou maratona, onde durante os meses de verão podemos ter temperaturas em torno de 30ºC com um nível de umidade do ar em torno de 80%.

O calor que produzimos aumenta a temperatura interna que, em repouso, se estabiliza entre 36 e 38 ºC e durante a atividade física atinge e se mantém entre 38 e 40 ºC em condições normais. Para manter esta temperatura “de trabalho” é preciso expelir calor, do contrário o organismo superaquece e para de funcionar. Perde-se a agilidade muscular e o cérebro (sistema de condução de estímulos nervosos e de gestão de ideias), para de se comportar com a mesma agilidade e rapidez.

O corpo perde calor naturalmente através do sangue e existe um processo natural do corpo que conduz o sangue do interior do corpo até à pele, o que leva à perda de temperatura pela transpiração ou sudorese, embora também possa fazê-lo através da radiação do corpo mediante o contato com o ar, como no caso do futebol. Particularmente, no futebol profissional, há uma perda de 2,5% de peso corporal, em torno de 2 Kg em um atleta de 80 Kg, o que intensifica a percepção de esforço, reduz a agilidade do drible assim como a duração e a intensidade dos sprints. Isso provoca uma redução significativa da agilidade em função da desidratação, o que geralmente acontece no final de uma partida.

Em diferentes pesquisas forma demonstradas como o calor afeta o desempenho esportivo. Por exemplo, em uma pesquisa que incluiu 19 atletas profissionais do futebol de alto rendimento (Mohr and Krustrup, 2013), os pesquisadores descobriram que, o desempenho do salto (um marcador de fadiga) reduziu de forma significativa (6%) durante as partidas jogadas a altas temperaturas (~30ºC), enquanto que esta redução não foi observada ao jogarem a temperaturas mais frias (~12ºC). Na verdade, sabemos que o melhor desempenho no futebol acontece a temperaturas entre 11 e 15ºC (Link and Weber, 2017; Zhou et al., 2019). Além disso, a perda de capacidade para saltar está relacionada com a perda de peso durante uma partida, o que significa que a desidratação tem um papel fundamental na perda do desempenho. Por outro lado, se a umidade do ar é elevada, o suor não evapora com a mesma eficácia que em um ambiente mais seco e, como resultado, transpira-se mais na tentativa de equilibrar a temperatura, o que induz a perda corporal de água e compromete assim, a hidratação e o mecanismo regulador do sangue.

É importante lembrar que o suor leva à diminuição da temperatura corporal. Se a umidade no ambiente for elevada, não haverá sudorese e, portanto, sua função será reduzida. Neste momento, se o atleta não estiver hidratado de forma adequada, a desidratação limita a agilidade do corpo na perda de calor e intensifica a taxa de degradação do glicogênio muscular, pois reduz as reservas de nutrientes e conduz à fadiga de forma prematura (pela desidratação e falta de energia), reduzindo a agilidade física e a tomada de decisões (Maughan et al., 2012).

Aclimatação ao calor e desempenho em ambientes com temperaturas altas

Já sabemos que as temperaturas altas reduzem o desempenho, porém podemos desenvolver algumas estratégias para atenuar estes efeitos. Por exemplo, treinar regularmente em ambientes com temperaturas altas induz uma série de adaptações que evitam ou ao menos reduzem em grandes proporções a consequência do calor no desempenho. Em uma pesquisa publicada pelo Journal of Applied Physiology (Lorenzo et al., 2010), um grupo de pesquisadores analisou uma equipe de ciclistas que foram designados para realizar 10 dias de treinamento a uma temperatura de 40ºC em processo de aclimatação ou o mesmo treinamento a uma temperatura mais fresca (13ºC). Após o término deste período, foi observado o aumento do volume de plasma (6,5%) na equipe que realizou o processo de aclimatação ao calor, o que é uma adaptação essencial, uma vez que a redução no volume de plasma é um marcador de desidratação, sendo que este aumento induzido com o treinamento previne contra os efeitos negativos do calor. Além disso, a equipe que havia passado pelo processo de aclimatação ao calor, melhorou seu desempenho de 5 a 8% nos testes realizados a esta temperatura.

Existe a possibilidade de aclimatação ao calor e desempenho em temperaturas mais frias?

Foi sugerido que, em virtude do aumento do volume de plasma produzido com a aclimatação ao calor e atendendo à denominada lei de Frank-Starling, o coração poderia aumentar a quantidade de sangue enviado aos tecidos (conhecido como volume sistólico). Este aumento no volume sistólico poderia representar um melhor desempenho não apenas em ambientes com temperaturas mais altas, mas a qualquer temperatura. E, realmente, um dos resultados mais curiosos na pesquisa acima mencionada foi que, a aclimatação ao calor não só aumentou o desempenho em ambientes com temperaturas mais altas, mas também o consumo de oxigênio (5%) e o desempenho físico (6%) em sprint, realizado a temperaturas frias. Outros autores realizaram pesquisas em 15 atletas profissionais do futebol que treinaram durante uma semana no Catar (34,6ºC de temperatura com índice WBGT) e observaram que, além de aumentar o volume de plasma, o desempenho no teste físico intermitente Ioiô realizado novamente a uma temperatura mais baixa (20ºC) melhorou em 7% (Buchheit et al., 2011).

Alguns pesquisadores questionaram estes benefícios (Nybo and Lundby, 2016), pois existiram evidências controversas na conclusão. No entanto, nos últimos meses, surgiram novas evidências que poderiam apoiar o potencial ergonômico da aclimatação ao calor. Em uma recente pesquisa realizada em ciclistas, os pesquisadores observaram que 5 semanas e meia de treinamentos em um ambiente com temperaturas alta (40ºC), com 1 hora diária, 5 dias por semana, aumentava não só o volume de plasma, mas também a massa de hemoglobina em maior proporção que o mesmo treinamento realizado a temperaturas frias (15ºC) (Oberholzer et al., 2019). Assim, estes dados sugerem que, o aumento do volume de plasma poderia também induzir a um aumento compensatório na eritropoiese, que significa o aumento na produção de glóbulos vermelhos (os encarregados pelo transporte do oxigênio), o que poderia melhorar de forma significativa o desempenho. Além disso, outra pesquisa com uma metodologia semelhante realizada em ciclistas de alto rendimento demonstrou que, 5 semanas de treinamentos em ambiente com temperaturas altas (37,8ºC) melhoraram a massa de hemoglobina de ciclistas de alto rendimento em maior proporção que o mesmo protocolo de treinamento realizado a 15,5ºC (Rønnestad et al., 2020). No entanto, é importante salientar que, estas pesquisas não revelaram benefícios significativos no desempenho desportivo, apesar destas melhorias hematológicas.

 

Conclusões

Assim, diante de campeonatos em ambientes com temperaturas altas, recomendamos que, além de aprender a hidratar-se de forma adequada, é preciso realizar com antecedência um período de aclimatação ao calor, no intuito de amenizar a perda do desempenho físico e mental.

 

 

BIHUB team

 

Referências

Buchheit, M., Voss, S.C., Nybo, L., Mohr, M., Racinais, S., 2011. Physiological and performance adaptations to an in-season soccer camp in the heat: Associations with heart rate and heart rate variability. Scand. J. Med. Sci. Sport. 21, 1–9. https://doi.org/10.1111/j.1600-0838.2011.01378.x

Link, D., Weber, H., 2017. Effect of Ambient Temperature on Pacing in Soccer Depends on Skill Level. J. Strength Cond. Res. 31, 1766–1770. https://doi.org/10.1519/JSC.0000000000001013

Lorenzo, S., Halliwill, J.R., Sawka, M.N., Minson, C.T., 2010. Heat acclimation improves exercise performance. J. Appl. Physiol. 109, 1140–1147. https://doi.org/10.1152/japplphysiol.00495.2010.

Maughan, R.J., Otani, H., Watson, P., 2012. Influence of relative humidity on prolonged exercise capacity in a warm environment. Eur. J. Appl. Physiol. 112, 2313–2321. https://doi.org/10.1007/s00421-011-2206-7

Mohr, M., Krustrup, P., 2013. Heat stress impairs repeated jump ability after competitive elite soccer games. J. strength Cond. Res. 27, 683–689.

Nybo, L., Lundby, C., 2016. CrossTalk opposing view: Heat acclimatization does not improve exercise performance in a cool condition. J. Physiol. 594, 245–247. https://doi.org/10.1113/JP270880

Oberholzer, L., Siebenmann, C., Mikkelsen, C.J., Junge, N., Piil, J.F., Morris, N.B., Goetze, J.P., Meinild Lundby, A.K., Nybo, L., Lundby, C., 2019. Hematological Adaptations to Prolonged Heat Acclimation in Endurance-Trained Males. Front. Physiol. 10, 1–8. https://doi.org/10.3389/fphys.2019.01379

Rønnestad, B.R., Hamarsland, H., Hansen, J., Holen, E., Montero, D., Whist, J.E., Lundby, C., 2020. Five weeks of heat training increases hemoglobin mass in elite cyclists. Exp. Physiol. In press. https://doi.org/10.1113/ep088544

Zhou, C., Hopkins, W.G., Mao, W., Calvo, A.L., Liu, H., 2019. Match performance of soccer teams in the Chinese super league—effects of situational and environmental factors. Int. J. Environ. Res. Public Health 16. https://doi.org/10.3390/ijerph16214238

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