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May 15, 2020

Medicina
Saúde e Bem-Estar
Rendimento Desportivo

AS CONSEQUÊNCIAS DO CONFINAMENTO PARA OS ATLETAS PROFISSIONAIS

Não existem precedentes para esta situação, na qual o esporte profissional em todo mundo está atravessando, em função da pandemia do coronavírus. A grande maioria dos atletas têm enfrentado, acima de tudo, grandes incertezas. Uma verdadeira interrupção nos treinamentos, nos campeonatos, na vida em geral, e tudo isso sem saber quando se voltará a normalidade ou quando essa situação melhorará.

As associações e entidades médicas esportivas alertaram sobre uma interrupção indesejada e indefinida das atividades profissionais dos atletas e que o isolamento poderia gerar, entre outras consequências, o receio de perderem condicionamento físico, apoio tanto familiar quanto social em função do confinamento, preocupações por possíveis contágios pela COVID-19 de seus familiares e amigos, medo da doença em si, tendência a pensarem excessivamente no futuro e nos próximos passos que deveriam dar, assim como preocupações de ordem financeira.

Esta situação de adversidade pode levar a problemas psicológicos e quadros de ansiedade. Especialmente se já havia problemas anteriores tais como insônia, transtornos obsessivos compulsivos e inclusive depressão, que neste estado podem se agravar. Os atletas enfrentam várias fases de transição em suas carreiras, mas estas mudanças sempre são previsíveis e estão, de certa forma, sob controle. Quando interrupções de atividades é contrária à sua vontade, as consequências envolvidas podem ser comparadas às de uma lesão ou à aquelas de afastamento ou aposentadoria esportiva.

Existe uma crença popular de que o atleta é mais forte psicologicamente que um cidadão comum, isto porque enfrenta desafios que vão além de suas capacidades, sendo esta uma atitude constante, demonstrando uma alta capacidade de resistência, sofrendo uma pressão contínua em seu desempenho e ainda uma exposição absoluta à críticas e à opinião pública, através de redes sociais. Entretanto, as patologias mentais nos atletas apresentam proporções semelhantes às da população em geral. Inclusive existem estudos que revelam que um em cada cinco atletas universitários passou por processos depressivos. A prática esportiva está associada a uma melhor autoestima em diferentes fases da vida, mas quando é desenvolvida em ambientes competitivos profissionais, aparecem fatores potencialmente graves de estresse.

Historicamente, os estudos científicos sobre o esporte profissional identificaram, desde os anos 70, que o afastamento de atletas pode gerar desequilíbrios de identidade como consequência problemas na sua saúde mental. Para as pessoas em geral, qualquer aspecto da vida que afete a sua identidade pode ser uma grande fonte de estresse. Com as conclusões destas pesquisas, podemos traçar algumas analogias com a atual situação de confinamento e a suspensão indefinida dos campeonatos e torneios.

A interrupção indesejada da prática esportiva profissional pode ser traduzida como perda de autoestima em função da relevância das ações de um atleta. Nos casos de afastamento, houve situações em que o atleta demonstrava viver uma “morte social”. No confinamento, em um grau mais leve, podem existir situações similares a esta.

Durante a pandemia, também aconteceram algumas situações que foram consideradas determinantes para o afastamento do atleta. Houve perda de status econômico, de apoio social e de seus seguidores. São situações que interferem no estresse, por meio da sensação de impotência e de isolamento. Existem estudos em que os atletas entrevistados comentaram sobre o impacto de deixarem de ver seus nomes na mídia com muita frequência. No caso da aposentadoria forçada, existem situações em que podem aparecer sensações de dependência do esporte associadas a uma fase de negação.

Na atual situação, poderá se repetir quadros semelhantes em que, caso se prolongue ainda mais a retomada dos campeonatos, essa negação resulte em quadros de angústia. Um estudo sobre ginastas canadenses demonstrou que, 70% das atletas tiveram problemas com a transição ao término de suas carreiras. Geralmente, elas viam-se imersas em constantes questionamentos existenciais. Tudo o que era importante para elas havia perdido o sentido, questionando-se constantemente…Quem sou? Para onde vou? O que está por vir? Viveram até o momento levando seus corpos ao limite, competindo consigo mesmas para ver até onde poderiam chegar. Uma vida sem esses desafios ou estímulos as faziam sentir-se completamente desorientadas.

Quanto a este fenômeno, a literatura científica também adverte, reiteradamente, sobre a questão da “perda de gentilezas”, no contato diário com seus colegas com os quais realizam viagens e compartilham longas estadias durante as concentrações. É um problema que atinge atletas de equipe, principalmente, os que passaram desde a adolescência até a maturidade, vivendo e desenvolvendo-se em “ambientes de vestiário”. A perda repentina deste apoio poderia levar a situações de buscas compensatórias, um problema que, em casos extremos, pode levar ao risco de abuso de determinadas substâncias. Muitos estudos identificaram exemplos de atletas conscientes da importância de desenvolverem uma identidade e uma vida às margens da sua disciplina, mas se sentem incapazes. Em alguns casos declararam nem ao menos saber como fazer isso.

De qualquer forma, o percentual de atletas com problemas em uma transição a princípio previsível como, por exemplo, um afastamento, variam de acordo com a disciplina e a compreensão dos estudos. Entretanto, foram identificadas situações de risco que estabelecem um perfil do atleta vulnerável. Os atletas que vivem em ambientes com muitas restrições e treinamentos especialmente personalizados, poderiam ter sido os mais expostos, pela falta de apoio social e, dependendo de suas condições socioeconômicas e culturais, estariam mais vulneráveis à danos psicológicos se em suas vidas não desenvolveram outras atividades ou estabeleceram outras metas além das de âmbito esportivo.

O apoio familiar, nestas fases de transição, é um fator determinante na hora de atenuar o estresse. Se o estímulo familiar é fundamental durante a carreira de um atleta, tanto no sucesso quanto no fracasso, será ainda mais importante quando tudo isso acabar ou se interromper. Em situações de confinamento, terá sido conclusiva a aproximação ou o distanciamento familiar, assim como o espaço disponível em sua residência. Os atletas que trabalham longe do seu local de origem, residindo em apartamentos de trânsito, são os mais frágeis. Excessivo estresse ou desilusão no esporte podem ocasionar a síndrome de Burnout, suscetível à depressão, embora sua relação direta ainda não esteja clara nos estudos da medicina esportiva.

No caso do estresse gerado por uma lesão, a literatura científica diferencia os atletas que tiveram um ambiente no qual puderam compartilhar seus sentimentos e os que não tiveram essa oportunidade. Os que encontraram uma saída para suas emoções, tiveram mais chances de transformar a situações de fragilidade em oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Foram capazes de enfrentar a adversidade como desafio. Além disso, as emoções positivas motivaram o interesse pela situação. Aprender, mergulhar no que é novo, serviu para experimentar um crescimento psicológico durante este período sem atividades. Em outra situação, os que se encontraram sozinhos ou estiveram em ambientes pouco propensos à demonstração de suas emoções negativas, identificamos o suprimindo desses sentimentos, tornaram-se vulneráveis a pensamentos obsessivos, aumentando a dificuldade de transformar a atual situação.

Outra abordagem compatível com essa situação é quando ambos os fenômenos são citados ao mesmo tempo como, por exemplo, dos atletas que são obrigados a se afastarem em função de uma lesão. Quando uma tragédia destas proporções acontece, a incerteza que surge após o planejamento de uma carreira, quando ainda se é muito jovem, pode afetar sua saúde mental. Em uma situação como a atual, os atletas que se encontravam em um excelente momento de sua carreira tais como os que conseguiram finalmente chegar ao grupo de elite ou lutaram para isso, viram a sua carreira estar comprometida. Se o seu condicionamento físico não era bom antes da pandemia, seu estado pode ser comparado ao daqueles que não conseguiram superar os problemas do passado quando abandonam o esporte. Identificamos que, alguns atletas que acumularam um sentimento de raiva não manifestada por dificuldades ou adversidades na sua carreira, ao finalizarem suas atividades, puderam apresentar quadros de amargura e até mesmo de raiva. A ansiedade pelos conflitos não resolvidos.

Para evitar todas essas possíveis situações nos esportes em equipe, os treinamentos à distância priorizaram o contato humano, conservando assim, um vínculo entre os colegas como as sessões gamificadas do FC Barcelona feminino. Entre as dicas divulgadas pelos especialistas, destaca-se a possibilidade de se modificar ou transformar os objetivos e as metas a longo prazo, assim como centralizar-se nos cuidados com a saúde e em atividades que sirvam para evitar ou atenuar preocupações em virtude desta crise sanitária.

 

 

A equipe Barça Innovation Hub

 

FONTES:

Athlete Mental Health and Mental Illness in the era of COVID-19 – Australasian College of Sport and exercice physicians

El cese de la motivación: El síndrome del burnout en deportistas – Revista de psicología del deporte

Antecedentes y consecuencias del burnout en deportistas: estrés percibido y depresión – International Journal of Clinical and Health Psychology

Examining Hardiness, Coping and Stress-Related Growth Following Sport Injury – Journal of Applied Sport Psychology

Leaving Competitive Sport: Retirement or Rebirth? – Department of Sociology, University of Colorado, Colorado Springs

University sport retirement and athlete mental health: a narrative analysis – Qualitative Research in Sport, Exercise and Health

Coping with retirement from sport: The influence of athletic identity – Journal of Applied Sport Psychology

Forced Retirement From Elite Football In Australia. Journal of Personal and Interpersonal Loss – Journal of Personal and Interpersonal Loss

The Retirement Experiences of Elite, Female Gymnasts – Journal of Applied Sport Psychology

Adjusting to retirement from sport: narratives of former competitive rhythmic gymnasts – Qualitative Research in Sport, Exercise and Health

 

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