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April 30, 2020

Medicina
Saúde e Bem-Estar

COVID-19: CONSIDERAÇÕES PARA CLUBES E ATLETAS

A origem da epidemia do vírus SARS-CoV-2 (COVID-19) no final do ano de 2019, desencadeou uma série de acontecimentos que, presumidamente, mudarão muitas coisas que até então eram consideradas normais no nosso dia a dia. Em função da elevada propagação do vírus (1), muitos países tiveram que interromper bruscamente suas atividades com o objetivo de reduzir a transmissão e não sobrecarregar a capacidade dos sistemas de saúde.

Por exemplo, a maioria das ligas e campeonatos esportivos foram cancelados ou suspensos desde o início de março de 2020. Enquanto as diferentes autoridades competentes decidem como e quando retomarão com os treinamentos e os campeonatos, os departamentos médicos estão trabalhando no desenvolvimento de guias de orientação, como o publicado pela revista especializada Sports Health (2), que tem como objetivo instruir as entidades na condução de diferentes cenários. Deste modo, o objetivo é reduzir o risco de contaminação tanto de atletas quanto de funcionários dos clubes e, caso sejam contaminados, conhecer as diretrizes de ação e os tratamentos disponíveis, assim como saber qual o momento mais seguro para o retorno às atividades uma vez passada a infecção.

 

Prevenção

Ainda que a grande maioria dos atletas tenham um menor risco de desenvolverem sintomas graves em consequência da COVID-19, uma vez que não apresentam comorbidades associadas como hipertensão e obesidade (3), as estratégias de prevenção são necessárias por vários motivos. Em primeiro lugar, para evitar que sirvam de canais de transmissão do vírus, reduzindo o risco de contaminação à população mais vulnerável aos efeitos adversos graves, tais como pessoas idosas ou imunossuprimidas. As pessoas assintomáticas, são aquelas que estão no processo de incubação do vírus e que não apresentam sintomas, são as que menos se pode controlar, pois não sabem que são portadoras do vírus e o propagam sem saber (4). Desta maneira, pelo fato de serem atletas e jovens, no caso de uma contaminação, é provável que apenas apresentem sintomas leves ou até mesmo sejam assintomáticas, o que pode aumentar o risco de contaminação em outras pessoas. Por este motivo é tão importante seguir as recomendações para atenuar as possibilidades de contaminação em outras pessoas.

Por outro lado, se o atleta adoece, interromperá seus treinamentos e afetará seu condicionamento físico (2). Apesar de não existir um risco elevado, alguns autores especulam que o vírus poderia trazer consequências para órgãos como o coração, os pulmões, o fígado, os rins, o sangue e o sistema imunológico (5,6), o que requer uma máxima cautela no momento de se tomar decisões que minimizem os possíveis efeitos do vírus. Neste sentido, as seguintes medidas de prevenção podem ajudar a reduzir o risco de contaminação:

  • Higienização das mãos: lavar bem as mãos com frequência, utilizando água e sabão durante pelo menos 20 segundos ou usar um desinfetante hidroalcóolico como álcool em gel (solução com pelo menos 60% de álcool) na falta de água e sabão (2). Como o vírus pode sobreviver durante dias em diferentes superfícies, é aconselhável higienizar-se regularmente (7).
  • Distanciamento social: é recomendado evitar aglomerações bem como manter uma distância de aproximadamente 2 metros de outras pessoas.
  • Deslocamentos: até que medidas sejam tomadas, é recomendável permanecer em casa o máximo possível, devendo cada atleta realizar seu treinamento em sua própria casa. Além disso, existem restrições temporárias para viagens a outros países.
  • Máscara facial: apesar da OMS não ter recomendado especificamente o uso massivo de máscaras (8), diferentes análises (9) e edições (10) recentemente publicadas recomendam sua utilização em toda a população. Existem evidências científicas que indicam sua utilização e é por isso que no futuro deverá ser discutida a sua implementação nas práticas esportivas.
  • Alteração da carga de treinamento: novamente este ponto reúne opiniões divergentes, já que as evidências não são conclusivas. Alguns estudos sugerem que o treinamento prolongado e intenso esteja associado a uma depressão temporária do sistema imunológico que pode durar horas ou dias (11). Desta maneira, e, apesar de não existir um consenso sobre a teoria da “janela aberta”, o período em que se é mais suscetível a uma possível infecção, alguns especialistas tendem a seguir uma abordagem mais conservadora, limitando as sessões de treinamento a <60 minutos e a <80% da capacidade máxima durante este período para prevenir infecções pela COVID-19 (2). De qualquer forma, os exercícios que são recomendados durante o período de isolamento devem ser orientados e monitorados pelos treinadores e fisiologistas, com o objetivo de controlar o máximo possível a carga e a evolução do estado de saúde do atleta.

 

Atleta com covid-19

O período de incubação do vírus é de aproximadamente 14 dias, e os sintomas mais comuns são febre, cansaço, tosse seca e dores de cabeça (12). Além disse, alguns pacientes podem apresentar parâmetros bioquímicos alterados, tais como níveis elevados de lactato desidrogenase, ferritina ou interleucina-6 (12,13), o que pode gerar respostas de alto nível inflamatório. Entretanto, o risco de desenvolver complicações graves ou de ser hospitalizado são menores para pessoas entre 18 e 45 anos (inferior a 10%) (14). Portanto, um atleta sem fatores de risco associados e contaminado pelo vírus pode apresentar sintomas semelhantes a de uma gripe (2). Assim, a principal recomendação é o controle dos sintomas e o repouso (2).

Desta forma, caso o atleta teste positivo ou apresente qualquer suspeita de estar com essa doença, recomenda-se o isolamento dentro de casa, desde que os sintomas não sejam graves.

 

Quando o isolamento deverá acabar?

As autoridades recomendam a suspensão do isolamento com base em duas estratégias, em função da disponibilidade de recursos. Se houver a possibilidade de se realizarem testes, o isolamento poderá ser interrompido mediante os seguintes critérios:

  • A pessoa não apresentar febre sem o uso de medicamentos.
  • A pessoa não apresentar sintomas de desconforto respiratório.
  • A pessoa apresentar dois testes negativos para COVID-19 com mais de 24 horas de diferença.

No caso da falta de disponibilidade de testes específicos, os critérios serão os seguintes:

  • Ter decorrido pelo menos 7 dias desde o surgimento dos primeiros sintomas.
  • Ter decorrido pelo menos 72 horas desde o desaparecimento dos sintomas sem o uso de medicamentos.

 

Saúde mental

O impacto psicológico que essa pandemia pode trazer aos atletas ainda é desconhecido, já que, se aos elementos alerta social e incerteza se somam a suspensão dos campeonatos ou o adiamento dos Jogos Olímpicos, com o que isso significa para as pessoas que trabalham há anos com suas mentes voltadas para este objetivo, o resultado é uma somatória de emoções que pode levar à situações de estresse e ansiedade. Por isso, os responsáveis médicos, tanto clínicos quanto psicólogos dos clubes ou outras entidades deveriam se antecipar e oferecer métodos que auxiliem no controle dessas emoções, na medida do possível, em meio a esta nova realidade.

 

Retorno às atividades

Quando as autoridades sanitárias decidirem suspender as restrições, permitindo o retorno às atividades esportivas, essa situação também deverá ser acompanhada de protocolos de prevenção e acompanhamento de riscos, tanto pelos clubes quanto pelas entidades que tenham como objetivo evitar um novo surto do vírus. Neste sentido, se um atleta apresentar sintomas da COVID-19, os colegas, técnicos e demais trabalhadores que tenham tido contato com ele, deverão iniciar um período de isolamento, até que seja testado. Se for positivo, o isolamento deverá se prolongar por mais 14 dias (2). Caso contrário, poderá retornar às atividades diárias normais.

Por outro lado, poderíamos sugerir a implementação de medidas de controle diário de temperatura nos acessos às instalações de treinamento, pois o monitoramento da febre pode reduzir a incidência dessa doença (15).

 

Conclusão

O objetivo de hoje continua sendo o de atenuar a curva da pandemia e não tomar decisões precipitadas que nos remetam ao ponto de partida. Para isso, as autoridades esportivas deverão seguir focando na preservação da saúde tanto de seus atletas quanto da sociedade em geral assim como prever modelos de atuação, permitindo que o retorno às atividades seja o mais seguro possível, sempre fundamentado nas recomendações sanitárias.

 

 

Adrián Castillo

 

 

REFERÊNCIA

  1. Wu JT, Leung K, Leung GM. Nowcasting and forecasting the potential domestic and international spread of the 2019-nCoV outbreak originating in Wuhan, China: a modelling study. Lancet. 2020 Feb 29;395(10225):689–97. Available from: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30260-9
  2. Toresdahl BG, Asif IM. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): Considerations for the Competitive Athlete. Sports Health. 2020 Apr 6;1941738120918876. Available from: https://doi.org/10.1177/1941738120918876
  3. Dorn A van, Cooney RE, Sabin ML. COVID-19 exacerbating inequalities in the US. Lancet. 2020 Apr 18;395(10232):1243–4. Available from: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30893-X
  4. Shi Y, Wang Y, Shao C, Huang J, Gan J, Huang X, et al. COVID-19 infection: the perspectives on immune responses. Cell Death Differ. 2020; Available from: https://doi.org/10.1038/s41418-020-0530-3
  5. Chen N, Zhou M, Dong X, Qu J, Gong F, Han Y, et al. Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet. 2020 Feb 15;395(10223):507–13. Available from: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30211-7
  6. Zheng Y-Y, Ma Y-T, Zhang J-Y, Xie X. COVID-19 and the cardiovascular system. Nat Rev Cardiol. 2020;17(5):259–60. Available from: https://doi.org/10.1038/s41569-020-0360-5
  7. van Doremalen N, Bushmaker T, Morris DH, Holbrook MG, Gamble A, Williamson BN, et al. Aerosol and Surface Stability of SARS-CoV-2 as Compared with SARS-CoV-1. N Engl J Med. 2020 Mar 17;382(16):1564–7. Available from: https://doi.org/10.1056/NEJMc2004973
  8. Organization WH. Advice on the use of masks in the context of COVID-19: interim guidance, 6 April 2020. World Health Organization; 2020.
  9. Greenhalgh T, Schmid MB, Czypionka T, Bassler D, Gruer L. Face masks for the public during the covid-19 crisis. BMJ. 2020 Apr 9;369:m1435. Available from: http://www.bmj.com/content/369/bmj.m1435.abstract
  10. Howard J, Huang A, Li Z, Tufekci Z, Zdimal V, van der Westhuizen H-M, et al. Face masks against COVID-19: an evidence review. Preprints 2020; doi: 10.20944/preprints202004.0203.v1.
  11. Schwellnus MP, Jeans A, Motaung S, Swart J. Exercise and infections. Olympic Textb Med Sport. 2008;344–64.
  12. Wang D, Hu B, Hu C, Zhu F, Liu X, Zhang J, et al. Clinical Characteristics of 138 Hospitalized Patients With 2019 Novel Coronavirus–Infected Pneumonia in Wuhan, China. JAMA. 2020 Mar 17;323(11):1061–9. Available from: https://doi.org/10.1001/jama.2020.1585
  13. del Rio C, Malani PN. COVID-19—New Insights on a Rapidly Changing Epidemic. JAMA. 2020 Apr 14;323(14):1339–40. Available from: https://doi.org/10.1001/jama.2020.3072
  14. Garg S, Kim L, Whitaker M, et al. Hospitalization Rates and Characteristics of Patients Hospitalized with Laboratory-Confirmed Coronavirus Disease 2019 — COVID-NET, 14 States, March 1–30, 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2020;69:458–464. Available from: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm6915e3.
  15. Mercer JB, Ring EFJ. Fever screening and infrared thermal imaging: concerns and guidelines. Thermol Int. 2009;19(3):67–9.

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