A tendinopatia é uma das lesões mais comuns entre os atletas do esporte de elite. Uma edição publicada (Järvinen, 2019) pelo Dr. Tero Järvinen, na reconhecida revista British Journal of Sports Medicine, colocou em foco um elemento comum que o tecido lesionado apresenta, conhecido como hipóxia. A hipóxia acontece quando são encontrados baixos níveis de oxigênio na região lesionada (inclusive estando em repouso), uma elevada concentração de lactato (Alfredson et al.,2002), além de enzimas anaeróbicas, tecido fibroso e hialino (Järvinen et al., 1997).
Estas características biológicas e histopatológicas potencializam a criticidade da hipóxia, induzindo a ativação do HIF-1α, fator de transcrição que regula respostas à adaptação das alterações nas concentrações de oxigênio nos tecidos. O HIF-1α se estabiliza rapidamente quando os níveis de oxigênio intracelular diminuem, modulando a expressão de proteínas que estão relacionadas ao metabolismo anaeróbico e à criação de novos vasos (neovascularização) mediante fatores de aumento vascular (p.ex.: VEGF) (Pouysségur, Dayan, & Mazure, 2006). Paradoxalmente, estes sinais angiogênicos (geração de novos vasos), excepcionais e caóticos, induzidos pela hipóxia, geram a criação de novos vasos sanguíneos, contudo ainda estão distantes da solução do problema e sim o conservam. O processo é conhecido como vascularização patológica, semelhante ao desenvolvimento de tumores (elevada concentração de lactato, hipóxia e vascularização heterogenia) (De Palma, Biziato, & Petrova, 2017).
Por isso, um dos objetivos é normalizar o fluxo sanguíneo para aumentar a concentração de oxigênio no tecido lesionado. Recentes pesquisas tentaram reverter esta situação, propondo a reintrodução de fatores necessários para a estabilidade vascular na região afetada, empregando o uso da proteína R-RAS (Li, Sawada, & Komatsu, 2017). Com o objetivo de normalizar a vascularização, uma proposta de exercício foi apresentada para a resolução deste problema. Por exemplo, em espécimes animais acometidos por câncer, o exercício aumentaria o fluxo sanguíneo ao tumor, o que induziria à redução da hipóxia, lactato e a vasoconstrição nesta região (Koelwyn et al., 2017; McCullough et al., 2014). Assim, o estudo demonstra que o exercício é capaz de controlar o ambiente do tumor. Transferindo estes resultados para os tendões, um protocolo de exercícios poderia aumentar o fluxo sanguíneo na lesão e reduziria a hipóxia e os aspectos fisiopatológicos associados a ela.
O professor Järvinen afirma que “Oxygen is an absolute requirement for tissue regeneration in a human body” (o oxigênio é um absolutamente essencial para a reestruturação celular no corpo humano). Assim é estabelecido um novo ponto de partida para o estudo das lesões (tendinite e não tendinite): o volume de oxigênio que chega ao tecido lesionado.
Adrián Castillo García
Referência
Alfredson, H., Bjur, D., Thorsen, K., Lorentzon, R., & Sandström, P. (2002). High intratendinous lactate levels in painful chronic Achilles tendinosis. An investigation using microdialysis technique. Journal of Orthopaedic Research, 20(5), 934–938. https://doi.org/10.1016/S0736-0266(02)00021-9
De Palma, M., Biziato, D., & Petrova, T. V. (2017). Microenvironmental regulation of tumour angiogenesis. Nature Reviews Cancer, 17, 457. Retrieved from https://doi.org/10.1038/nrc.2017.51
Järvinen, M., Józsa, L., Kannus, P., Järvinen, T. L. N., Kvist, M., & Leadbetter, W. (1997). Histopathological findings in chronic tendon disorders. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 7(2), 86–95. https://doi.org/10.1111/j.1600-0838.1997.tb00124.x
Järvinen, T. A. H. (2019). Neovascularisation in tendinopathy: from eradication to stabilisation? British Journal of Sports Medicine, bjsports-2019-100608. https://doi.org/10.1136/bjsports-2019-100608
Koelwyn, G. J., Quail, D. F., Zhang, X., White, R. M., & Jones, L. W. (2017). Exercise-dependent regulation of the tumour microenvironment. Nature Reviews Cancer, 17, 620. Retrieved from https://doi.org/10.1038/nrc.2017.78
Li, F., Sawada, J., & Komatsu, M. (2017). R-Ras-Akt axis induces endothelial lumenogenesis and regulates the patency of regenerating vasculature. Nature Communications, 8(1), 1720. https://doi.org/10.1038/s41467-017-01865-x
McCullough, D. J., Stabley, J. N., Siemann, D. W., & Behnke, B. J. (2014). Modulation of Blood Flow, Hypoxia, and Vascular Function in Orthotopic Prostate Tumors During Exercise. JNCI: Journal of the National Cancer Institute, 106(4). https://doi.org/10.1093/jnci/dju036
Pouysségur, J., Dayan, F., & Mazure, N. M. (2006). Hypoxia signalling in cancer and approaches to enforce tumour regression. Nature, 441(7092), 437–443. https://doi.org/10.1038/nature04871
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