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June 29, 2020

Medicina
Saúde e Bem-Estar

O PAPEL DO MÉDICO DO ESPORTE COM O RETORNO DOS CAMPEONATOS DE FUTEBOL

A crise sanitária em consequência da SARS-CoV-2 (COVID-19) provocou uma tomada de medidas extraordinárias, o que afetou todas as esferas da nossa vida e, no mundo do esporte, não foi diferente. O isolamento, que grande parte da população mundial enfrentou, gerou como consequência o cancelamento de campeonatos internacionais muito significativos como a Champions League, os Jogos Olímpicos e a Eurocopa de futebol, que seriam realizados neste verão europeu. Além disso, a interrupção das ligas e campeonatos nacionais, o que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial, presumiu a perda de milhões de euros que as entidades esportivas tiveram. Assim, após o primeiro surto da doença e no intuito de minimizar importantes perdas econômicas, iniciou-se a retomada das principais ligas do esporte, como o futebol e o basquetebol.

Durante todo este período de isolamento, as equipes médicas se encarregaram da vigilância e do controle epidemiológico dos sintomas mais frequentes da COVID-19 entre os atletas e seus familiares, garantindo que, todas as recomendações de segurança como (medidas de higiene e distanciamento social) anunciadas pelos especialistas do assunto, fossem seguidas em todo momento. Além disso, nos casos dos atletas e familiares que testaram positivo para a COVID-19, o protocolo de atuação adotado foi o mesmo que para o restante da população1, 2. Em relação ao futebol, conforme dados de propriedade da La Liga, após o primeiro lote de ensaios realizado nas equipes esportivas da primeira e segunda divisão, 16% dos jogadores teriam desenvolvido anticorpos, contra 5,2% da população espanhola em geral, de acordo com o Estudo ENE-COVID-19. E isto acontece porque, apesar dos atletas geralmente serem jovens e apresentarem menor risco de desenvolverem sintomas mais graves em consequência da COVID-19, já que não apresentam comorbidades associadas como hipertensão ou obesidade, podem da mesma forma serem assintomáticos ou sofrerem complicações e, portanto, devem seguir as mesmas estratégias de prevenção que o restante da população, auxiliando no combate da propagação do vírus e assim evitando o colapso dos sistemas de saúde3.

Por isso, durante este período de isolamento, os atletas se viram forçados a treinarem em suas casas “através de planejamentos para treinamentos e recomendações sobre atividades físicas que recebiam dos seus preparadores” conforme instruções do Dr. Javier Yanguas e da Dra. Eva Ferrer, membros do departamento médico do FC Barcelona. Contudo, como constata a própria Dra. Ferrer, “evidentemente não é a mesma coisa treinar diariamente em um campo de futebol ou um ginásio de esportes, seria o mesmo dizer que eles tenham passado por um processo de falta de treinamento, onde o organismo reduz sua capacidade de resposta funcional e, além disso, pode apresentar um menor índice de desenvolvimento de massa magra e um maior índice de desenvolvimento de massa gorda”. De fato, este acontecimento gera o aumento do risco de lesões, mediante a retomada da prática esportiva diária. Um exemplo nítido foi o aumento de lesões graves que ocorreu na Liga Nacional de Futebol Americano (NFL), quando o mundo do esporte sofreu uma interrupção que durou mais de 3 meses em virtude de uma greve4 Após este lockout, as lesões nos tendões de Aquiles aumentaram logo no primeiro mês.

Em virtude disso, foram criadas mini pré-temporadas onde os atletas, sempre sob estritas condições de segurança, pudessem se adaptar ao aumento gradual das cargas de treinamento, com o objetivo de retornarem aos campeonatos totalmente confiantes5-7. Além disso, de uma forma interdisciplinar, com a participação de médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas e nutricionistas, que colocaram em andamento inúmeras medidas, com o propósito de diminuir o risco de lesões, mediante a retomada dos treinamentos. Desta forma, o Dr. Daniel Florit, do Departamento médico do FC Barcelona, relata as principais medidas que foram aplicadas: “avaliação da massa corporal para saber por onde começar, planejamento das cargas de treinamento de forma gradual, otimização da comunicação com os atletas para se anteciparem à qualquer situação de risco e adequação do plano nutricional com o auxílio de recursos ergogênicos”.

O Departamento médico do FC Barcelona elaborou um protocolo completo, seguindo as diretrizes da La Liga, com especial ênfase no controle da transmissão pela COVID-19, com o objetivo de garantir um estado de saúde e desempenho físico ideais entre os atletas antes da retomada dos campeonatos8. Especificamente, o protocolo consistiu em avaliação médica pré-participativa (Pre-Parcitipation Medical Examination), semelhante à realizada em uma pré-temporada convencional9, incluindo exames de PCR e ELISA, para identificar possíveis testes positivos de COVID-19 e potencialmente contagiosos, assim como conhecer a soroprevalência dos atletas da equipe esportiva principal do FC Barcelona. No caso dos testes positivos, o protocolo inclui análise do impacto sobre outros órgãos e sistemas como o respiratório, o cardiovascular, o musculoesquelético e o imunológico, que, além disso, poderia provocar um efeito negativo no desempenho do atleta. Assim, é essencial descartar lesões do miocárdio entre os atletas infectados antes de sua retomada aos treinamentos, uma vez que a miocardite e pericardite são manifestações clínicas da COVID-1910.

Devido ao aumento do risco de lesões após a retomada das atividades esportivas, o controle da carga de trabalho e o uso dos questionários wellness, tornaram-se particularmente importantes, assim como a rotatividade efetiva dos atletas durante todo o campeonato, sendo que, a partir daí, o número de alterações permitidas por jogo aumentou para 5. Por essa razão, o papel do médico do esporte conquistou grande importância após o retorno das atividades esportivas, uma vez que foram incluídas em suas funções frequentes, a vigilância, o controle dos sintomas e possíveis sinais compatíveis com a COVID-19, além da avaliação dos fatores de riscos de se lesionar que, em condições normais, não apareceriam entre os profissionais. Assim, entre as atribuições do médico, serão acrescentadas “as medidas de proteção e as de segurança implementadas por autoridades sanitárias e pelas próprias Ligas, que consistem em preservar o distanciamento social e o uso da máscara de proteção, higienização frequente das mãos e novas condutas de higienização quanto aos sintomas respiratórios como (evitar tossir ou espirrar diretamente para o ar e tocar o rosto, a boca e os olhos com as mãos), assim como diminuir o contato social diário”, conforme relato do Dr. David Domínguez, membro do Departamento médico do FC Barcelona.

Concluindo, com o tempo e o andamento dos campeonatos nos permitirá determinar se as medidas implementadas para a segurança e a realização de testes de detecção foram eficazes. Se daqui até o término do campeonato não for identificado nenhum atleta, seja ele principal ou membro de diferentes staffs, como positivo para a COVID-19 assim como a incidência de lesões tiver se mantido em uma porcentagem semelhante à dos anos anteriores, poderemos afirmar que os protocolos adotados foram bem sucedidos e que uma parcela significativa de responsabilidade, como não poderia deixar de ser, foi assumida pelos médicos do esporte. Além disso, esses protocolos serviriam de modelo para os atletas de outras áreas e para amadores.

 

 

Javier Salvador Morales

 

Referências:

  1. Eirale C, Bisciotti G, Corsini A, Baudot C, Saillant G, Chalabi H. Medical recommendations for home-confined footballers’ training during the COVID-19 pandemic: from evidence to practical application. Biol Sport. 2020;37(2):203-207.
  2. Toresdahl BG, Asif IM. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): Considerations for the Competitive Athlete. Sports Health. 2020;12(3):221-224.
  3. Mann RH, Clift BC, Boykoff J, Bekker S. Athletes as community; athletes in community: covid-19, sporting mega-events and athlete health protection. Br J Sports Med. 2020; bjsports-2020-102433.
  4. Myer GD, Faigenbaum AD, Cherny CE, Heidt Jr RS, Hewett TE. Did the NFL lockout expose the Achilles heel of competitive sports? J Orthop Sports Phys Ther. 2011; 41(10):702-5.
  5. de Miguel F, Miñano J, Gómez A, Campos MÁ, Chena M, Da Silva R. Regreso al entrenamiento y la competición en el fútbol profesional después de la alerta sanitaria del covid-19 con énfasis en la reanudación de los entrenamientos y la gestión de la competición. Rev Prep Física en el Fútbol. 2020; 32:20–8.
  6. Casáis L, San Román Z, de Hoyo M, Lago Peñas C, Solla J. Regreso al entrenamiento y la competición en el fútbol profesional después de la alerta sanitaria del COVID-19 con énfasis en la prevención de lesiones. Rev Prep Física en el Fútbol. 2020; 32:9-19.
  7. Domínguez E, Arjol JL, Crespo R, Fernández C. Regreso al entrenamiento y la competición en el fútbol profesional después de la alerta sanitaria del COVID-19 con énfasis en los efectos del confinamiento durante el desentrenamiento. Rev Prep Física en el Fútbol. 2020; 32:1–8.
  8. Yanguas X, Dominguez D, Ferrer E, Florit D, Mourtabib Y, Rodas G. Returning to Sport during the Covid-19 pandemic: The sports physicians’ role. Apunts Sports Medicine. 2020; 55(206): 49–51.
  9. Pruna R, Lizarraga A, Domínguez D. Medical assessment in athletes. Med Clin (Barc). 2018;150(7):268-274.
  10. Schellhorn P, Klingel K, Burgstahler C. Return to sports after COVID-19 infectionDo we have to worry about myocarditis? Eur Heart J. 2020.

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