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June 16, 2020

Gestão de Lesões
Saúde e Bem-Estar
Rendimento Desportivo

O MODELO DE MATT TABERNER PARA REABILITAÇÃO DE LESÕES “CONTROL-CHAOS CONTINUUM”

A realização do uso de dispositivos GPS no mundo dos esportes permitiu coletar informações precisas sobre as variáveis relacionadas à carga de treinamento. A quantificação e o monitoramento dessa carga externa são fundamentais para conduzir o processo de reabilitação de uma lesão, pois nos permite analisar a evolução dos parâmetros relacionados à fadiga assim como realizar ajustes precisos quanto ao estado do atleta. O monitoramento da carga de trabalho e um programa de reabilitação eficaz permitirão personalizar o processo de reabilitação, ajudando a otimizar na tomada de decisões a ser considerada durante período de recuperação do atleta. O sucesso de uma equipe é representado, em grande parte, pela disponibilidade para jogar dos atletas que a compõem, isto porque as lesões influenciarão exponencialmente nos resultados que a equipe vier a atingir no final da temporada.

O retorno aos campos ou return to play é um dos aspectos mais importantes durante o processo de recuperação de um atleta de futebol de elite após uma lesão. O principal objetivo deste período deve ser o de preparar o atleta para sua reintegração ao campeonato com um risco mínimo de uma reincidência, pois este é um momento especialmente crítico para o surgimento de novas lesões. Neste contexto, o retorno prematuro aos treinamentos em grupo ou aos campeonatos aumentará o risco de reincidências (1, 2). Entretanto e, por outro lado, contar com jogadores-chave que estejam disponíveis seria benéfico para a equipe. Por isso, o equilíbrio risco/benefício pode vir a representar um conflito de interesses que exija uma tomada de decisões compartilhada entre departamento médico, esportivo e próprio atleta. É fundamental que entendamos o return to play como um processo constante de tomada decisões, onde cada decisão tomada condicionará a seguinte.

Um programa de reabilitação adequado parece fundamental para reduzir, na medida do possível, o tempo de distanciamento de um atleta porque, além disso, repercutirá em todo o grupo ao se sentirem comprometidos com o nível tático. No entanto, até o momento, a eficácia dos programas de reabilitação descritos na literatura científica é inconsistente. Por estes motivos, Matt Taberner, pesquisador da Liverpool John Moores University (Liverpool, Inglaterra) com mais de 12 anos de experiência na Premier League inglesa, tendo passado pelo Aston Villa Football Club como analista principal das categorias inferiores e pelo Everton Football Club como responsável pela Sports Science e ainda nos últimos anos como dirigente técnico da reabilitação esportiva no clube, propõe um modelo para reabilitação de lesões “control-chaos continuum“, partindo da premissa de se impor, de maneira progressiva, maiores desafios aos atletas durante o período de recuperação (3).

Taberner utiliza o conceito de caos, fazendo referência ao contexto esportivo em específico, tentando simular a versatilidade dos movimentos e das possibilidades que se apresentam ao longo de um jogo, refletindo a natureza imprevisível do futebol. Este modelo se desenvolve em um plano de 5 fases que vão desde um elevado controle até um elevado caos (Figura 1). O objetivo fundamental é devolver ao atleta suas cargas de trabalho anteriores à lesão, através do monitoramento com GPS.

Em uma entrevista, Taberner nos conta como criou esse modelo: “minha formação acadêmica em Ciências do esporte, aliada à anos de observações sobre a metodologia de trabalho nesta área da fisioterapia, me permitiu analisar, processar e identificar áreas cruciais que não estavam presentes, mas sentia que eram necessárias dentro do processo de reabilitação das lesões nos atletas de elite. Uma das principais percepções aprendidas foram que, os programas de reabilitação pouco se assemelhavam às exigências (volume e intensidade) que eram realizadas no momento de reintegração ao grupo. De igual forma não levavam em consideração a necessidade de um condicionamento progressivo que preparasse fisicamente o atleta para as demais exigências do futebol de elite, onde acontecem jogadas imprevisíveis com desafios constantes a todo momento. Estas observações e a brecha na literatura em torno deste tema, me induziu a desenvolver meu próprio método para a reabilitação dos atletas do futebol de elite, apoiado na crença de que era necessário dispor de um plano que se tornasse um guia para os profissionais”.

Figura 1. As 5 fases do modelo control-chaos continuum proposto por Matt Taberner para reabilitação após uma lesão.

Na primeira fase, o atleta se encontra em um ambiente estritamente controlado com um risco mínimo, movendo-se com baixa velocidade e reduzindo as atividades específicas de jogo. Durante a fase de “Controle moderado”, começa-se a introduzir mudanças de direção com a bola, mas sob circunstâncias controladas (em uma situação de caos controlado). A seguir, para a fase de transição entre o controle e o caos, inclui-se um volume limitado de movimentos com ações imprevistas e aleatórias específicas de jogo. Na 4ª fase, aumentam-se as ações com alta velocidade sob um caos moderado (movimentos imprevisíveis), agregando passes e padrões de movimentos específicos de jogo. Finalmente, incorporam-se exercícios projetados para serem executados em cenários caóticos (velocidades altas/caos alto) e desenvolvem-se elementos técnicos próprios do futebol, por exemplo, passes e arrancadas em movimento. Além disso, nesta última fase trabalha-se com volumes de treinamento anteriores à lesão e simulando a intensidade do campeonato.

Nesta linha, acabam de ser publicados dois casos sobre a implementação do modelo control-chaos continnum durante a reabilitação e do return to play dos atletas do futebol de elite. No primeiro caso, depois de sofrer uma ruptura do tendão isquiotibial proximal, o atleta retornou aos campeonatos 120 dias após sofrer uma lesão e depois de 13 meses, o atleta não teve nenhuma reincidência (4). Surpreendentemente o atleta superou seu pico máximo de velocidade durante o return to play. Em outro caso, depois de uma fratura exposta da tíbia e fíbula distal, o atleta retornou aos treinamentos com o grupo em 7,5 meses depois da lesão, completando pela primeira vez os 90 minutos de jogo aos 9 meses e permanecendo sem lesões 11 meses após o seu retorno (5). Em relação às aplicações práticas do modelo, o próprio Taberner comenta: “A reabilitação personalizada de alta qualidade é um aspecto crítico do processo return to play: um enfoque único não destaca a ampla versatilidade que existe entre lesões, atletas, exigências competitivas e respostas à carga. O modelo control-chaos continnum oferece um plano de referência adaptável ao tipo de lesão, de atleta e ao processo de cura com o objetivo de garantir um return to play bem-sucedido e com um risco mínimo de reincidências”.

O retorno à prática esportiva depois de se sofrer uma lesão, apresenta altas taxas de reincidências e demanda modelos complexos que simulem as condições naturais de jogo e minimizem os riscos de uma nova lesão. A combinação de evidência e experiência clínica, que oferece suporte ao modelo control-chaos continuum proporciona aos profissionais do esporte um novo método, que permite minimizar o risco de uma reincidência e, portanto, poderá promover um return to play bem-sucedido.

 

 

Javier Salvador Morales

 

Referências:

  1. Gajhede-Knudsen M, Ekstrand J, Magnusson H, & Maffulli N. Recurrence of Achilles tendon injuries in elite male football players is more common after early return to play: an 11-year follow-up of the UEFA Champions League injury study. Br J Sports Med. 2013;47(12):763-768.
  2. Ekstrand J, Healy JC, Waldén M, Lee JC, English B, & Hägglund M. Hamstring muscle injuries in professional football: the correlation of MRI findings with return to play. Br J Sports Med. 2012;46(2):112-117.
  3. Taberner M, Allen T, & Cohen DD. Progressing rehabilitation after injury: consider the ‘control-chaos continuum’. Br J Sports Med. 2019;53(18):1132-1136.
  4. Taberner M, & Cohen DD. Physical preparation of the football player with an intramuscular hamstring tendon tear: clinical perspective with video demonstrations. Br J Sports Med. 2018;52(19):1275-1278.
  5. Taberner M, van Dyk N, Allen T, Richter C, Howarth C, Scott S, & Cohen DD. Physical preparation and return to sport of the football player with a tibia-fibula fracture: applying the ‘control-chaos continuum’. BMJ Open Sport Exerc Med. 2019; 5(1):e000639.

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